Ontem, você sabe, você estava comigo, deu tudo errado e eu
fiquei emputecida com isso. - Você estava ali,
recebendo o meu mau humor pela caixa dos peitos, com um sorriso complacente
plantado no rosto e dessa forma, jogando por terra toda a minha acidez.
Você sabe como eu sou metódica quando resolvo planejar algo,
e sabe o quanto eu me transformo num serzinho rabugento quando as coisas saem
da linha. Mas você estava ali, com sua postura indefectível, como se portasse toda
a paciência do mundo nos bolsos e o tempo lhe fosse nada menos, que um moleque obediente.
Por Deus, como você possui destreza com as trivialidades ao
seu redor! Estes pequenos incidentes te enfeitam, contribuem com seu charme, com seu ar cosmopolita de mestre do dia-a-dia. Toda a contrariedade que lhe cai
sob os ombros parece ser oportuna, já que ressalta o seu não-abatimento, o seu jeito
de sair triunfante do caos. De rir dele.
Olha, eu juro que amanhã, que outro dia qualquer em que a
gente esteja feito gato e rato, eu faço uma lista com todos os seus tantos defeitos
irritantes, desconcertantes e mortais. Mas hoje, deixa eu te curtir, te paparicar, me deixa fazer o meu famoso draminha homérico a seu favor.
Ontem, como eu disse, tudo deu errado e ainda sim, você me fez brindar a
minha mini-xícara de café com seu copo de cerveja. Quem mais brindaria cerveja
com café, em pleno mundo desabando em desordem?
Você disse que deveríamos fazer uma crônica
sobre esse nosso momento de brindes atípicos e a gente caiu na gargalhada.
Sei que no fim, eu já estava com a língua solta, confessando os meus devaneios em me tornar uma cineasta de filmes românticos, afrouxando o laço do meu vestido e respirando do seu ar contagiante. E agora, olha só: aqui estou. Não sei se pelo efeito “devastador” da cafeína ou se de suas sugestões certeiras, mas, escrevendo as nossas sagas de madrugada.
Sei que no fim, eu já estava com a língua solta, confessando os meus devaneios em me tornar uma cineasta de filmes românticos, afrouxando o laço do meu vestido e respirando do seu ar contagiante. E agora, olha só: aqui estou. Não sei se pelo efeito “devastador” da cafeína ou se de suas sugestões certeiras, mas, escrevendo as nossas sagas de madrugada.
O fato é que eu tinha, eu tinha que destacar a sua importância
na minha vida. O seu poder de sacudir minha poeira, de desfazer minha carranca.
Gosto também do seu modo de me fazer acreditar que sou uma mulher especial e
segundo suas palavras, propriamente sofisticada.
Há tanta mediocridade por essas estradas, tanta 'puxação de
tapete', que ao saber que conto com almas genuinamente nobres, sou ocasionada por uma série
de suspiros aliviados; por uma alegria incontida no peito.
Obrigada por existir. E não o bastante, por dar ênfase a minha
existência.