Passá-la inteira para o papel, tornou-se um conflito em constante rota de colisão comigo. Ainda que, a cada vez que me arriscava, a eloqüência falhava e qualquer frase que pudesse descrever uma situação, soava como no mínimo grosseira. Simplesmente nada cabia ou se encaixava.
De antemão, falo de uma história e não, estória. Dessas mesmo, que fazem a gente querer ouvir ao pé do fogo estalante de uma lareira. Ou dessas que ressuscitam o nosso espírito, muitas vezes já mortificado pela falta nobreza entre as pessoas, que há muito não dá o ar da graça.
Sei que havia o desejo de deixá-la gravada em qualquer coisa que fosse, mas o desejar também já não era o bastante. Eu não passava sequer da sexta linha, permanecia travada; emperrada literalmente... Até ontem.
Foi enquanto conversava com quem teimou de virar protagonista dessa minha "trama", que acabei confessando o que andou importunando-me esses dias. - E ele disse: “A versão do papel estaria ali, mas ela jamais seria fiel ao que você realmente sente. Há coisas que não podem mesmo ser transcritas. Elas são exclusivas de nós.”
Simples, até óbvio... Porém, não menos importante, me caiu como luva.
Quando a gente cultiva esse hábito, o de escrever, - eu pelo menos – sou tomada por uma ânsia que me faria beber o mundo em um gole só. Desmascararia o sentimento, lhe daria forma, cor, cheiro, face... Escrever não é senão, a própria tentativa de costurar a alma numa folha de papel ou no branco convidativo da tela do computador. Entretanto, em meio aos nossos bagulhos internos, convém preservar o que nos há de peculiar. Filtrar. Não violar o que não quer ser violado.
Fui hasteando a bandeira branca por fim. Não tenho um catálogo completo destas emoções, é verdade. Mas ainda as tenho.
Sosseguei, portanto. Sem caneta, dedos batendo insistentemente nas mesmas teclas e sem a minha história redigida. Contudo, ainda podia gozar do que, por seus instantes únicos, conseguiu tornar-se justamente o melhor do oposto: Indescritível.
Cada palavra escrita, é e sempre será, uma parte de sua alma "costurada" em uma página do seu próprio livro. E quem sabe assim, um pouco mais a frente, terá um portfólio dos sentimentos que permeiam sua mente liberta.
ResponderExcluirEu discordo em parte. Sou adepto da filosofia de Cecília que "Nada se compara." (apesar de que gosto de comparações, dependendo de como é feita) e acredito com pé firme que tudo pode ser descrito, mesmo que para descrever você tenha que usar a palavra "indescritível".
ResponderExcluir^^
Você é linda.
ResponderExcluirSim, mas veja bem...
ResponderExcluir"Indescrítivel" ressalta apenas o poder de algo por ser inenarrável, porém, ainda sim, não qualifica nem escreve o seu conteúdo, sensações ou coisa alguma.
Ou seja... a única coisa que "indescritível" descreve, é o seu não não descrever.
Sim, literalmente "indescritível" não descreve nada.
ResponderExcluirMas só pelo fato de você falar pra alguém que aquilo que viu, sentiu, ouviu, existiu é indescritível a pessoa já pega a intensidade de como era, foi, é aquilo. ^^