quarta-feira, 25 de abril de 2012

Muito franca

Taças de vinho, doses excessivas de boa música, alguns mergulhos na alma e estou enfim, resgatada. 
Passei alguns dias sem querer conta com as palavras, desejando não autenticar a minha tristeza e agonia em uma tela em branco. Se eu pusesse os dedos no teclado, no fundo, saberia que tentaria escrever o inverso do meu sentimento; o que serviria apenas como uma forma lúdica de tentar evitá-lo, negá-lo. 
Mas o fato é que mesmo não querendo, a gente sempre se trai na escrita. Deixa escapar a essência pro papel, deixa escapulir uma verdade aqui ou ali. E olha, meu caro, não há nada mais frágil do que tentar mentir sobre si, escrevendo. É o mesmo que cometer um crime sem calçar luvas nas mãos: as digitais sempre ficam.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Capricho

Deixo o meu sorriso se esgueirar pelo canto da boca e escapar, mas é de propósito. Quero fazer parecer que a minha distância não passa da tentativa falha de fingir que não quero. Desejo fortemente que a minha sutil falta de cautela lhe seja perceptível, que é para ir deixando brechas... Veja bem: quero que acredite no meu desencanto e descaso, ao mesmo tempo em que uma voz insistente sussurra-lhe para enxergar justamente o contrário. 
Eu não me importo de ser a sua dúvida atroz.

domingo, 1 de abril de 2012

Lado A

Ajo diferente. O que tenho para oferecer é o refinamento de alma e a sutileza. A vulgaridade é a ferida exposta do mundo e em longo prazo, eu não quero ter que carregar essa cicatriz. 
Se não há indignação, eu dirijo a minha vida de forma minimamente íntegra, que é pra não espalhar palavras ásperas ao vento e ferir - despropositadamente - a torto e a direito. Aproveitando a emenda: palavras doem. Algumas machucam, matam e não há retorno se depois assolar o arrependimento.
Já fui mais inflexível também. Já tive os ímpetos da raiva maiores do que a sensatez-inteligente de simplesmente falar baixo e certeiro; ou a de não falar e deixar o silêncio corroer a certeza do que esperavam que eu dissesse. O fato é que isso me confere uma imprevisibilidade que me agrada e que de quebra confunde as más intenções: quem não pode prever os meus atos, também não pode preparar-me armadilhas eficazes.