- Claro ou escuro?
- Como?
- Esmalte. Claro ou
escuro?
- Ah... Escuro.
Vermelho escuro.
Fiquei observando aquela
moça com ares de desgosto, remexer no seu carrinho de esmaltes. - Rosa pink, rosa
bebê, cinza, cintilante, laranja... Aquele carnaval de cores parecia fazer um
contraste perfeito com a máscara triste que a mulher pregara no rosto.
Será que ela tinha
filhos? Se sim, quantos filhos tivera? Será que vivia só? Ou mesmo ninguém
tinha por ela? Será o quê...? "Claro ou escuro?" A pergunta que lhe cabia todo o
santo dia. Dando forma as unhas roídas, colorindo mãos de madames... E as dela,
quem cuidava?
Olhei para elas, suas
mãos. Estavam pintadas de um “rebu” descascado e a palma, com resquícios de
tinta. – “Ossos do ofício”, pensei.
Levantei os dedos e dei
uma espiada nas minhas unhas já finalizadas.
- Você trabalha bem.
Disse eu, numa
tentativa de estimular o seu bom humor.
Ela nada disse; nada
esboçou. Talvez ouvisse mal.
- Gostei das unhas,
ficaram ótimas.
Repeti mais alto, não
deixando de achar-me inconveniente.
Ela deu um sorriso
chocho e logo voltou a pendurar sua tristeza no rosto.
Me senti um tanto
frívola. Estava ali, no meio de um salão, pintando unhas e criando hipóteses
sobre as máscaras alheias.
No frigir dos ovos, talvez ela só estivesse num dia ruim. Talvez fosse mesmo melancólica ou quem sabe, até mais feliz que eu.
Não sei... Quem poderia cerrar o punho com a verdade nas mãos?
A única certeza que conseguiu acompanhar-me porta a fora, era a de que a absoluta constância é mesmo a inconstância dos dias. Ora voamos em azul-céu, ora pisamos em chumbo de asfalto quente. Daí, em meio a estas desventuras, acabamos por fazer isso mesmo: jogando um vermelho, um rosa, um verde; na unha, na cara, no cabelo, na parede do quarto... Tudo para que não fiquemos vivendo um xadrez; preto no branco. Tudo para que fujamos à essência bruta da vida.
No frigir dos ovos, talvez ela só estivesse num dia ruim. Talvez fosse mesmo melancólica ou quem sabe, até mais feliz que eu.
Não sei... Quem poderia cerrar o punho com a verdade nas mãos?
A única certeza que conseguiu acompanhar-me porta a fora, era a de que a absoluta constância é mesmo a inconstância dos dias. Ora voamos em azul-céu, ora pisamos em chumbo de asfalto quente. Daí, em meio a estas desventuras, acabamos por fazer isso mesmo: jogando um vermelho, um rosa, um verde; na unha, na cara, no cabelo, na parede do quarto... Tudo para que não fiquemos vivendo um xadrez; preto no branco. Tudo para que fujamos à essência bruta da vida.
Todo o abrir de olhos
é bem-vindo porque nos faz perceber as diferentes nuances das cores. E o pior
do avesso é o tempo passar, a visão turvar e corrermos o risco de
enxergarmos unicamente os seus tons.
Claro ou escuro.
Claro ou escuro.
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