segunda-feira, 25 de junho de 2012

Folia

O verbo me abandonou. Sobraram-me apenas os gestos, a respiração e esse coração que bate e arde. Só restou a minha humanidade e todo esse conjunto de órgãos e trejeitos que fazem de mim, mais eu. Na falta da fala, valho-me é da expressão do meu olhar, aparentando estar perdido no cenário de um dia nublado qualquer, mas dizendo milhões de coisas contidas e suspensas entre o negro da minha pupila e a cor cinza do céu.
Na falta de alguma frase exata que descreva os sentimentos, eu me valho é da expressão do corpo; e danço! E ainda que você não possa ver, saiba que sim, eu danço! Rodopio os meus pés sobre o piso frio 
da minha sala sem mobília e girando-girando eu vou me deliciando com o meu corpo, que grita o que as palavras escritas e faladas teimam em não mais dizer. Acompanho o ritmo calado de um som inaudível; invento a minha própria canção e assim dou coreografia ao meu contentamento. Danço! Danço em culto à chegada de tantas novas convicções, e planos, e descobertas, e coincidências. Danço para compensar a minha boba incapacidade de dar um nome à essa sincronia de felizes acasos, que de tão rara nessa vida de clichês, me emudeceu.


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