sábado, 24 de março de 2012

Sob o glitter derramado

É cedo pra chorar, menina. Recolhe essa tua antecipação, põe um batom, delineia os olhos e volta a viver. É uma ordem, vai! Calça o teu salto, escolhe um figurino e isso é tão urgente quanto os dias que passam descabidos e acelerados atrás da sua janela sempre fechada. Por falar nisso, areja a tua casa. Joga para o lado essas cortinas que tanto escurecem e permita que o clima entre; seja de chuva ou de sol, mas permita! Não se prive de ver a beleza das horas vivas, nítidas e reais porque a existência, meu Deus, a existência passa miseravelmente rápido. 

A dor? Ela não irá passar. A dor existe e te faz uma visita a cada momento em que as suas fraquezas assaltam sem aviso-prévio ou a cada maldita vez que as suas pernas cambaleiam, tropeçam e te jogam com força ao chão. Não deixa inoculado o que te faz doer, não. Pega essa tristeza e inventa uma poesia, porque é do drama que nascem as histórias mais belas e interessantes. Pega a melancolia e faz dela o seu charme, porque ninguém vira fã da felicidade que antes não sofreu dificuldade.

Ainda é cedo pra chorar e se render, menina. Recolhe a lágrima, corre pra rua e silencia a boca dos equivocados com a sua graça imprevisível. Não permita a ousadia de quem dança sob os seus destroços se o teu edifício ainda está aí, inteiro. Vamos! 

Há muito mais brilho além do seu frasco de glitter derramado.


Um comentário:

  1. Tua prosa solapa a dor sem mitigar sua natureza, de doer, e se espargia no ser-menina.

    Você, teu nome Bluma, teus escritos, todos lindos, de verdade, viu?!
    Acho que passaríamos a noite inteira trocando idéias, batendo papo sobre os nossos e outros escritos entre um ou outro cafezinho. Será que a Bahia empresta a esse nortista um pouco da criatividade e da parceria dessa escritora?
    Ah, ia esquecendo! A bailarina aceita um presente a lá Degas?
    Chega de tantas perguntas. Aguardo notícias. Abraços!

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