sábado, 26 de maio de 2012

O Ás do Poder


É tudo expectativa, meu amigo. E somente ela que ainda move esse batalhão de desiludidos. Dê-lhes pão e água e de tão cegos e famintos, se locupletarão de comida e sequer olharão para você. Então, diga-me: por que lhes dará pão, se pão alimenta, as farão fortes e independentes de você? Pare de ser reles e tonto que só a gratidão alheia não encherá seus bolsos, meu rapaz. E foi por isso que veio até mim, não? Para ser egoisticamente próspero! Essas babugens líricas de amor, gratidão e perdão causam-me aneurismas! Mas até que lhes serão úteis, pois lhes servirão como um belo gancho na hora de dar o bote. - Mostre à todos que és o criador da felicidade sem fim, o criador da solução de todos os seus problemas - sejam financeiros, amorosos ou psicológicos - e se derramarão por você. As pessoas são facilmente traídas por suas necessidades mais urgentes, então aprenda a descobrir quais são elas. Sonde-as, meu rapaz. Sonde-as feito uma raposa. 

Não se fie em um único sentimento. Use, abuse de todos em prol de um só: a expectativa. Amor gera expectativas de amar. Dinheiro gera expectativa de ser rico. Prometa-lhes então o mundo dos quais sonham. Não é necessário deter a solução na mãos... Ora! Poupe-me! Só um tolo desmedido faria isso. Se tens tu boca e lábia, é o bastante para criar desde o mais profundo calabouço, até mais límpido e vívido paraíso. Não seja, portanto, o rei do amor e nem do amar. Nem do dinheiro e nem da riqueza. Defina qual é o seu público e seja o rei das expectativas. É uma fórmula concisa e hermética. Não há como falhar. 

Invista no teu show e na sua figura, entretanto. Te lembras daquele clichê de que imagem é tudo? Pois é, meu querido pilantra: é a mais pura verdade. Pode abusar do lustra sapatos e do gel se o que quiser parecer for um modelinho de sobriedade e correção. Mas saiba, porém, que só se consegue o respeito imediato através de dois modos: pelo terror ou pela mais absoluta excentricidade. E olhando assim para ti, menino franzino, penso que não aterrorizarias nem um inseto! Desaconselho-te então, a ir pela primeira alternativa. No mais, o terror é um meio falho e que pode deixar brechas pelo caminho já que o seu excesso termina por cultivar o ódio encubado das pessoas... E olha, digo-te com a experiência que me foi conferida nestes compridos anos de malandro: não há nada mais destrutivo do que ódio em formol.

Ao invés disso, experimente ser uma ilustre e heterogênea criatura. Uma figura mais caricata e volúvel. Multifacetada, misteriosa ou até mesmo lúdica! Um mágico! Crie o seu próprio mago interior e assuma os seus trejeitos e movimentos sempre tão célebres e fascinantes. Solte faíscas! Reverbere discursos vazios, com frases soltas e cheias de emblema e isso ajudará a manter a sua aura de imprevisibilidade e encantamento. Pinte o seu rosto de vez em quando! Seja um palhaço acrobático e finja despencar lá do picadeiro; mas caia de pé, arrancando flamejantes aplausos dos homens e suspiros secretos dos narizinhos de suas mulheres... Porque as pessoas, em seus íntimos todos iguais, amam tragédias onde no final tudo termina em superação. Mas são terminantemente repelidas pelas fatais. 

Não se deixe morrer, portanto. Não se deixe ser pego. A vala do esquecimento total fica exatamente abaixo da cordinha fina do sucesso. Mas suma, se for preciso e se assim você próprio decidir. Suma, se precisar reavaliar os cálculos. Suma, se precisar do plano “b”. Mas é importante lembrar que ao evaporar deves deixar a névoa da tua fumaça pairando por todo o ar, desnorteando e encantando à todos. E dance, se for preciso! E sapateie! E faça o teu público rir! Cante, meu amigo! Jogue “vivas” para o céu. Decore o teu show! Jogue serpentinas, confetes, plumas, bolas de sabão e as pobres lebres ficarão tão tontas e entorpecidas pelo belo e mágico, que não notarão o exato momento em que teu comparsa furtar os seus bolsos, enquanto tu arrancas o mais gentil e genuíno apreço de suas almas.  

2 comentários:

  1. Usemos e abusemos daquilo que faz parte de nós.
    Sentimentos são fantásticos não são? Tão pouco compreendidos mas tão precisos em nós. O nosso peito tem as ruas dos seus desfiles, urremos.
    Um grande abraço.
    (Vou seguir este lindo blogue ♥)

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  2. sumir, em suma, Bluma, já é despencar. Meu Plano é te ver, nem que seja de longe, daqui, do meu norte, esse "B" que te segue, senhor do seu caminho!
    agora longe é estar em ti, a imagem de tudo. A camisa amarela, meu relicário em que não pus fogo(ao contrário de Ari Barroso).
    quando te vi em mim, à noite e querendo, de andar nessa cidadela como um folião sem sorriso.
    não, minha linda Bluma.
    não sou eu o não amado.
    sou a espera que de cansado torna a te escrever...

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