Quase todos os dias é da mesma forma. O sol vai invadindo as frestas da cortina e escorrega sorrateiro até os meus olhos. A claridade obriga-me a abri-los e a olhar em volta: cortina, parede, cômoda, despertador, armários, a carteira de cigarros pela metade. Tudo muito sólido, palpável, real, sem magia e sem você.
Nunca soube ao certo como te dizer isso, mas não está tudo bem. Não vou pedir arrego, entretanto. Me recuso, cheia de birra, a estender bandeira branca. Torço para que as coisas aconteçam logo, tento sem sucesso aplacar a ansiedade que se instalou de moradia fixa aqui no meu peito; vivo cheia de planos e idéias infalíveis, mas quase nunca as ponho em prática. Não é medo. Dessa vez, não é não. É que eu tenho este hábito mesmo. Alguma parte de mim acredita que numa terça-feira cinzenta e chuvosa, uma carta seria jogada despretensiosamente debaixo da minha porta e nela, estaria escrita toda uma verdade que mudaria a minha vida para sempre. Um pedido de desculpas, talvez. Ou o trecho do meu verso favorito, aquele que você sabe qual é: o de Vinícius! Mas por outro lado, qual alma deste século perderia tempo com selos e cartas? Quem cansaria as mãos destrinchando palavras carregadas de um romantismo que há muito se esvaiu? Sendo assim, esquece. Ignora. Ignora tudo o que eu disse. Foi tudo culpa dessa minha mania incorrigível de esperar milagres soltos pelo vento.
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