Que tal uma casinha rústica no alto da Serra, com aquelas bonitas plantações? Rosas, alecrins, algodão, ipês... Sim! Ipês são lindos! Quero alguns
roxos, outros amarelos, vermelhos... Pode colocar na lista. Concede esse capricho para esta velha alma, meu velho amigo? Necessito tanto da paz e da beleza em seu tom mais puro e natural! Entenda que de translúcida e alva, em mim agora, só a minha pele. Não vê como a minha voz está rouca? Estou cansada dessas
andanças pelas bandas de Cá-dentro, menino. Cá-dentro não pára de chover. Ando exaurida
e encharcada, veja só! Não é de rir? Logo eu, que tanto exclamei o tempo frio,
queixosa agora das nuvens cinza!
E quer saber do que mais? Cá-dentro não tem essas coisas
modernosas de tv a cabo, chip e nem internet certa que afaste a solidão. Só de vez
em quando que aqui me aparecem uns príncipes, reis e gente de outras terras. Fico até com ares de nobre, sentindo-me querida, mas é tudo feito uma boemia duma noite só, menino! Logo me
canso deles, logo lhes peço educadamente que se retirem... Ou então, por si sós eles se vão na calada da noite. E quando eu abro os olhos cheios de ressaca e preguiça, já não há sinal de folia.
Mas olhe, repare em como esta alma velha é chantagista. Basta
que monte aqui, Cá-dentro, uma humilde casinha que lhe peço e juro: esqueço
todas essas injúrias lamuriosas! E basta abrir de par em par as janelas, deixando o vento correr solto e sem dono, que lhe prometo: respirarei com mais
prazer! Mas, espera... Que é isso em torno dos seus olhos? Rugas? E estes cabelos
brancos, desde quando? Sente-se, sim? Parece cansado também. Aceita café, chá ou
vinho? Fique mais. Venha, toma esse papel e este lápis, você desenha melhor que eu... Isso, assim
está ótimo. Que cor serão as paredes?